segunda-feira, 6 de julho de 2009

AS LAGOSTAS DA BALABAIA I

Por razões que talvez só os biólogos marinhos e os oceanógrafos possam explicar, entre a cidade do Lobito e de Novo Redondo/Sumbe, no Egito-praia, havia uma quantidade de viveiros de lagostas, que tornavam a pesca do crustáceo uma atvidade enfadonha de tão fácil que era; na época de maior densidade populacional de lagostas, no final da estação chuvosa, em pesca de mergulho se podia escolher as maiores, e em poucas horas se conseguia pegar à mão uma boa quantidade delas.
Mas nem havia necessidade, porque, das sanzalas da região, quase sempre havia pessoas vendendo pencas de lagostas, penduradas em cordas e ainda vivas, na beira da estrada e por preços irrisórios. Não raro, motivos de cenas surrealistas e de choque cultural.
Sabe-se que ao indígina africano com pouca influência de cultura ocidental, faltam algumas noções fundamentais nos países de cultura europeia... noção de tempo... de distância... de moeda.... entre outras.
Aconteçe que, na foz em delta do rio N´Gunza, havia um Kimbo (1), o Kimbo do Tchimbutika (nome do Soba), auto-suficiente em tudo, mas não completamente alheio a alguns poucos itens do conforto "civilizado"... catanas (2).... Kambrikites (3) quando chegava o cacimbo (4) algumas ferramentas agricolas.
Assim, quando um habitante desse ou de outra sanzala da região precisava ou queria comprar algum artigo do comerciante de mato, ía lá à loja e perguntava o preço, como mera referência. Na cabeça dele, o artigo em questão já tinha um preço estipulado e estabelecido, que era o produto do trabalho de um determinado numero de horas... meio dia... um dia.... dois dias no máximo, se se tratasse de um bem muito necessário.
E então ia mergulhar durante esse tanto tempo e pegar as lagostas que conseguisse, que depois pendurava no cipó ainda vivas, que ia para a beira da estrada vender pelo dinheiro pesquisado junto ao comerciante para o artigo; na realidade não era uma venda e sim uma troca com intermediário... trocava as lagostas pelo kambrikite ou catana!
Onde o surrealismo ou choque cultural?
Bem é que na época, não havia ainda os freezers caseiros, e era ferquente um viajante parar interessado em comprar, mas não a penca toda; onde guardar em condições de não deterioração vinte lagostas grandes? Ou por que amigos distribuir tantos crustáceos?Dava sim o preço pedido, mas por apenas três ou quatro lagostas.
A negativa por parte do vendedor era imediata, de modo algum, o dinheiro pedido era para a totalidade dos bichinhos, ou tudo ou nada....
Não adiantavam os argumentos tentando explicar que não se tratava de logro, não era a intenção enganá-lo, ele que entendesse que se estava disposto a pagar o preço pedido, mas só levar uma parte...
Era tudo ou nada, e se o viajante se negasse a levar tudo, então o indigena preferia continuar ali na beira da estrada aguardando outro interessado; tempo não era questão relevante nem muito bem entendida....
E a recusa não era porque se sentisse logrado pela proposta, mas sim ofendido. Representava um descaso, uma desvalorização do trabalho empreendido... como trabalhara aquele tanto de tempo e agora lhe ofereçiam o dinheiro pretendido para troca por apenas uma parte do produto conseguido?
Outra circunstância surrealista, acontecia quando dois elementos precisavam de comprar o mesmo artigo, e ambos iam mergulhar para pegar lagostas no mesmo periodo de tempo, e um deles, porque mais sortudo ou hábil, pegava uma quantidade nitidamente maior. Os dois iam para a beira da estrada, lado a lado, vender pelo mesmo preço as quantidades diferentes. O que tinha pego menor quantidade de pescado, não se constrangia minimamente de pedir por meia dúzia de lagostas o mesmo dinheiro que o companheiro pedia por uma dúzia... tinha trabalhado o tempo justo e com afinco, se pegou menos, bem isso são coisas da vida.
A tentativa de barganha comparando o preço e quantidade causava a maior estranheza... pedia o mesmo dinheiro porque trabalhara o mesmo tempo que o companheiro!!!

(1) - Kimbo - Sanzala, aldeia do mato
(2) - Catana - Facão
(3) - Kambrikite - Cobertor barato, de retalhos de algodão
(4) - Cacimbo - Estação seca ( em Angola só duas estações no ano, a da chuva e a seca).
Carlos Duarte

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